Lembro que, muitas vezes, quando surgiam solavancos na economia do País, meu pai usava uma expressão muito comum na época: “Durma com um barulho destes.”
Pois bem, talvez estejamos vivendo uma das mais graves e longas crises econômicas de nossa história. Uma crise alicerçada na insegurança jurídica, que afasta investimentos e investidores de todas as origens do nosso mercado.
A falta de conhecimento, habilidade e, sobretudo, visão sistêmica por parte dos gestores públicos tem conduzido o País ao caminho do caos generalizado.
A recente taxa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros gerou um desordenamento comercial jamais visto. Ainda assim, insiste-se em narrativas simplistas de que novos mercados, especialmente ancorados na China, seriam a solução imediata para os prejuízos. Entretanto, abrir e consolidar novos clientes ou fornecedores exige tempo, confiança, análise de plataformas fabris, compliance, logística e planejamento de longo prazo.
Ao longo dos anos, negligenciamos políticas industriais e deixamos de lado a competitividade global. Preferimos protecionismos pontuais, desonerações a setores influentes e até regimes trabalhistas injustos que favoreceram a importação de insumos e produtos pré-fabricados, apenas para montagem local. Basta lembrar o caso da indústria do calçado, que passou a importar cabedais e limitar-se à montagem, perdendo relevância produtiva.
Hoje, nossa política econômica desfavorece a competitividade internacional, eleva artificialmente os preços internos e alimenta a inflação. Juros e impostos altíssimos — inclusive sobre operações financeiras — sufocam investimentos e desanimam empreendedores.
O resultado é evidente: no dia 20 de agosto, 23 dias antes do previsto, o governo já havia arrecadado R$ 2,5 trilhões. Um dado que comprova como inflação, IOF e má gestão fiscal transformaram o Brasil em um dos países com a mais alta carga tributária do mundo.
Se quisermos voltar a ser uma nação desenvolvimentista, precisamos de líderes preparados, íntegros e comprometidos com o bem comum. Líderes que conheçam fundamentos de gestão por qualidade e governança corporativa, capazes de criar políticas públicas que gerem empregos, renda e riqueza, proporcionando a todos uma vida melhor.
No campo da segurança jurídica, cabe ao Parlamento pensar no coletivo e não em interesses pessoais. É hora de criar leis que estabeleçam prazos de mandatos, progressão de carreira e concursos classificatórios.
Só assim reduziremos, de fato, o “barulho” que há tanto tempo nos atormenta — e, finalmente, poderemos dormir sossegados.
Vitor Augusto Koch
Presidente da FCCS-RS