Na canção de Xande de Pilares, encontramos um hino à esperança e à fé:
“Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé
Manda essa tristeza embora
Basta acreditar que um novo dia vai raiar
Sua hora vai chegar.”
Vivemos um tempo em que o volume de informações e o avanço das tecnologias ampliam um ciclo já longo de transformações estruturais profundas, agora impulsionadas pela Inteligência Artificial de múltiplos propósitos.
Assim como o motor a vapor inaugurou a Revolução Industrial e a internet abriu as portas da era digital, hoje enfrentamos um novo ciclo — gigantesco e intenso — movido pela convergência de três grandes forças: Inteligência Artificial, Biotecnologia (com Agricultura de Precisão, Biofármacos e Edição Genética) e Ecossistemas Conectados.
A esse conjunto somam-se tecnologias orbitais, Blockchain, Web3, Computação Quântica, Robótica Avançada, Energias Sustentáveis e Armazenamento Inteligente. Muitos de seus efeitos já são inevitáveis.
Surge então uma pergunta:
Como empresários, gestores e lideranças podem distinguir o que é apenas ruído passageiro daquilo que exige estratégia e ação imediata?
A resposta passa, obrigatoriamente, por uma visão estratégica clara. Planejar é essencial, contudo, planejar com foco — definindo objetivos, impactos reais e alinhamento com o propósito do negócio.
Equipes competentes e preparadas são o ponto de partida; quando não, cabe ao líder investir em capacitação.
A partir daí, é preciso identificar o problema, construir soluções sustentáveis e avaliar o custo da não adoção ou o retorno do investimento, quando a implantação tecnológica for necessária.
O fato é que este novo ciclo tecnológico reconfigurará sociedades, negócios e economias.
Entretanto, o sentimento é de desatenção por parte de quem detém o poder de decisão.
Nossos índices educacionais são alarmantes — o IDEB e o SAEB revelam baixo desempenho, e as políticas públicas não reagem.
Mesmo o ensino de língua inglesa, obrigatório do 6º ao 9º ano, é deficiente — um contrassenso diante de sua importância global, seja para o comércio, a ciência ou o turismo.
O Artigo 205 da Constituição Federal é claro:
“A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao preparo para o exercício da cidadania e à qualificação para o trabalho.”
Ainda assim, a realidade caminha no sentido oposto. Micro e pequenas empresas, pilares da economia nacional, enfrentam um ambiente de desestímulo. A Lei Geral do Simples Nacional, criada para fomentar o desenvolvimento, mantém desde 2018 o teto de faturamento em R$ 4,8 milhões — valor que, corrigido pelo IGPM, já deveria estar próximo de R$ 8 milhões.
Diante de tantas pontas soltas, é inevitável o pensamento: talvez fosse preciso começar tudo do zero. O cenário é preocupante, entretanto, também é um convite à renovação — como demonstra a música “*Pilares*”, em versos que também evocam a fé, tradição e esperança:
“Senhor dos céus e da terra, fonte do afeto mais puro
Perdão, se só te procuro quando me encontro em desgraça.
(…)
Me ajuda, Pai, quero criar meus filhos
Do jeito que meu pai criou a mim.”
Que possamos reencontrar, como sociedade, os valores do início, para que o sacrifício daqueles que nos antecederam não tenha sido em vão. E que, entre as ruínas e os algoritmos, ainda sejamos capazes de recomeçar — com fé, coragem e propósito.
Vitor Augusto Koch
Presidente da FCCS-RS